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domingo, 8 de abril de 2018

Preguiça

Não, eu não sou preguiçosa, juro. 
Eu mesma já me chamei de preguiçosa, de acomodada e tal. Mas é porque eu não admito que sou portadora de necessidades especiais. Há muito tempo que venho lutando contra essa doença. Minha médica, na época, disse que eu precisava ir ao psicólogo por causa do diagnóstico.  Pura perda de tempo, porque por mais que as pessoas tentem incutir no meu juízo que eu tenho uma doença degenerativa e que eu devo ficar triste e chorosa por isso eu não admito que seja necessário. Acho, sem demagogia nenhuma, que tenho que cuidar, enfrentar, correr atrás e ver o que acontece. O que descobri depois desse tempo todo é que essa corrida cansa. Talvez por isso hoje eu não viva mais em médicos, aliás, vou o mínimo possível. Vivo com dor? Sim. Todos os dias. Em alguns momentos do dia ela aumenta, em outros diminui a ponto de eu considerar zero dor mesmo ela estando ali. Por isso me meti na montagem de uma confeitaria, aprendi a fazer cupcake, bolo e pasta americana, montei a loja, aluguei ponto e vivi com a renda auxiliar dessa loja por mais de três anos. Também fiz artesanato, que já gostava de fazer, vendi cosméticos e sei lá mais o que. E hoje tenho uma lojinha virtual de maquiagem que é a minha paixão (a loja e as maquiagens). Posto vídeos, produtos, faço propaganda, vendo, conheço pessoas boas ou não, simpáticas ou não. Trabalhei e ainda estou pelejando para trabalhar elaborando provas para algumas empresas, na minha área. Essa última atividade realmente eu não consigo mais exercer do jeito que gostaria. Mas sou apaixonada pela lojinha. Gosto de movimento. Minha sobrinha disse que sou mais animada do que moça velha pedida em casamento. Sou assim, gosto de abraçar, beijar, falar. Também sei calar, principalmente se não estou me sentindo bem ou se a dor ataca com maior intensidade. 
Isso é uma vantagem, uma virtude? Não sei. Tenho as minhas convicções sobre este sofrimento, meus princípios que procuro seguir, muito embora não seja perfeita, ninguém é. Apenas procuro não ficar reclamando por nada e no meu caso considero a dor algo que não merece tamanha atenção. Tanto que vivo tomando remédios para acabar com ela. À medida em que choro, lamento e reclamo, estou dando valor à ela, estou empoderando-a para que ela tome de conta da situação e se instale sem querer ir embora. Tenho mais é que criar mecanismos de me distrair dela, esquecê-la. E esses mecanismos geralmente me são extremamente prazerosos, não aquele tipo que se fala por aí de aumentar outra dor para esquecer a que se está sentindo. Junto com o prazer vem endorfina, alegria e tudo mais o que é bom.
Queria muito ser mais produtiva, mas meu esposo diz que se eu fosse mais produtiva era porque seria (fisicamente) saudável e não estaria aposentada. Então, esse ano comecei finalmente a me aceitar enquanto limitada, mas não como inútil. Sei que não posso fazer tudo o que quero, mas posso fazer alguma coisa ainda. Devagar e sempre. Melhor tarde do que nunca. E todos os outros ditados populares relativos ao tema. Quero andar, sair, passear, vender minhas maquiagens, tudo, quando quiser e não quando estiver "bem" ou sem dor. Se for esperar por isso posso não sair nunca mais e não, isso não combina com meu gênio, com meu espírito. Tenho um espírito livre, inquieto, corredor. Sonho que estou correndo, pulando e fazendo tudo o que não posso mais. Mas posso correr e pular de outra forma, posso me satisfazer por outros meios. Não posso ir para a academia malhar pesado, mas posso fazer exercícios de alongamento em casa ou caminhar de vez em quando com meu esposo ou com meus filhos. Posso andar pelo centro vendo as vitrines, camelôs e comprando minhas maquiagens para revender. Posso escrever no meu blog de vez em quando. Viajar pelo mundo sem sair de casa pela internet, ler livros espetaculares que levem minha mente para outros lugares nunca visitados fisicamente. E desse jeito, esquecer a dor.  Por isso digo que não, não sou preguiçosa não. Eu sou e quero ser cada vez mais inquieta, alegre, leve e suave. Como o vento que adoro. O vento que batia no meu rosto quando andava de moto de noite na minha cidade de coração que é Mossoró. Vento, meu amor, livre, leve e solta como você, meu querido. 

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