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sexta-feira, 14 de abril de 2017

Questionamentos sobre a tristeza

                Eu sei que a tristeza pode ser um meio de aprendizagem. Mas sei também que não sou perfeita, sou humana e propensa a todas as caídas e recaídas que um ser humano normal pode sofrer. Mas acho que justamente por isso, o cansaço está vencendo meu ânimo e por vezes  fico sem saber o que fazer ou pensar, como agir diante de determinadas situações. Se formos atrás de textos de auto ajuda, de sites que falem de tristeza e de como sair dela, vamos encontrar uma gama muito grande de religiosos, cada qual puxando brasa para a sardinha da sua igreja. Outros mostrarão frases de lugar comum, como dizer que o nosso problema não é o maior do mundo e que tem sempre alguém sofrendo mais. Mas é lógico que sabemos de tudo isso e é mais lógico ainda que pelo menos eu, dentro da minha ignorância espiritual, procuro levar todos esses conceitos comigo. Não precisa ser muito inteligente e sim ser um pouco humano para saber dessas coisas e saber também que, embora nosso problema não seja o maior do mundo, é o nosso problema, é o que está doendo, machucando, angustiando... Não posso comparar minhas preocupações com a de uma pessoa que não tem o que comer, que não tem família e encontra-se em um estado miserável de vida. É mais do que lógico isso. Mas dói, angustia, gera ansiedade e como machuca!
                Machuca mais ainda quando os nossos problemas não podem ser resolvidos por nós mesmos, dependem de outros para isso. Aí a ansiedade, a tristeza triplica. E nesses casos e realmente não conheço nenhuma frase de efeito geral para me conformar. Pelo menos comigo, eu começo a rever todos os passos que dei e começo a me perguntar se eu não poderia ter feito melhor. Sou mãe, sou esposa, sou profissional, dona de casa e posso garantir que não faço nada sem pensar em como minha família vai ficar. Não posso fazer o que quero, na hora que quero nem do jeito que quero, pois existem pessoinhas que dependem de mim. E justamente por isso fico me cobrando, tendo certeza de que poderia ter tomado decisões melhores na vida, especialmente depois que fiquei viúva. Mas na hora em que as decidi, não estava pensando somente em mim ou agindo como uma egoísta, queria ver o bem estar comum. Mas mesmo assim, ainda fico me perguntando onde errei e tentando me vigiar o tempo todo para não errar.
                É muito ruim quando você tem a sua história atrapalhada pelos outros. Nossa vida é um crescimento constante, hoje você provavelmente está bem melhor do que há alguns anos em vários aspectos.  Mas, e quando algum intrometido te atrapalha? Quando seus pais fazem tudo errado? E quando seu marido, que tinha tudo que qualquer ser humano normal deseja ter, com um lar e uma família linda, resolve se matar? E então, ter que começar tudo de novo, do zero?
                Tantas pessoas da minha idade e da minha época que viveram linearmente e quando olho para elas sinto uma certa inveja. Não do que elas têm de material, até porque eu nem sei o que muitas delas têm. Mas porque elas construíram uma vida de forma constante, crescente, sem intromissão de ninguém que as forçasse a começar tudo de novo, de uma maneira louca, sem precisar fazer coisas absurdas para sobreviver.
                Existem certas decisões que não adianta revogar, não adianta chorar o leite derramado. Mas mesmo essas, ainda podem ter seu lado positivo. Eu fico pensando se tivesse feito de outra forma, mas a essa altura, não adianta ficar nessa. Tenho mais é que seguir, sacudir a poeira e fazer a coisa certa com o que tenho. Mesmo imaginando que jamais pensei em passar por algumas situações. E é isso que dói. Fora o fato de ter sido forçada a ser adulta muito cedo. Como é que eu passei de criança que assistia Xuxa todo dia para dona de casa? Como é que eu hora estava andando de bicicleta lá na minha cidade do coração, com o vento (que adoro) no rosto, sentindo toda a liberdade que eu poderia ter naquela idade e de repente eu ter que tomar conta de compras, casa, banco, dinheiro, carro, marido, filhos, emprego e por aí se vai? Por que as pessoas se acharam no direito de atropelar minha vida, maltratando-me e me colocando em situações mais do que absurdas, que as pessoas da minha idade não passaram?
                Por que eu tive que ir para uma delegacia simplesmente porque minha mãe queria me dar uma prensa, queria mostrar que era ela quem mandava, sem que eu nunca fumasse maconha ou usasse outras drogas, nunca cometi nenhum crime e não passasse de uma menina medrosa que teve que perder o medo de tudo para sobreviver?
                Por que eu tive que andar a pé até a desnutrição enquanto estava no começo da faculdade, por que eu tinha que comer o que me davam de ajuda, porque eu não tinha dinheiro nem pra ônibus nem pra almoço, mas para os meus pais nunca faltou carro, comida e lazer?
                Por que eu tive que assumir a educação de um jovem sem que eu nunca tivesse tido nenhuma experiência com cuidado de outras crianças, ainda mais em se tratando de adolescentes, uma fase extremamente difícil? Como, se eu mesma era adolescente?
                Por que eu tive que ficar calada até adoecer, doença essa que carrego até hoje, comendo meus ossos, minhas cartilagens e me obrigando a tomar altas doses de morfina todos os dias?
                Meu espírito é de natureza livre. Não leviana, mas livre. Livre para poder ajudar quem eu queira, conversar, ter um amigo do coração, poder me deslocar para onde quiser, o que não significa que curto festas e baladas, não bebo nem fumo, mas acho que não existe melhor passeio do que ver vitrine de shopping com meus filhos. E por que tive essa liberdade arrancada de mim, meu amigo expulso da minha vida e minhas asas cortadas? Tudo foi se juntando de forma que hoje procuro me libertar desse peso acumulado nos ombros. Muita coisa ainda dói muito, porque não depende só de mim. Espero que logo, logo, tudo se resolva, para que eu possa então partir para outros rumos, em busca de minhas realizações que não incluem somente a mim. Quero ter tranquilidade para poder voar, com responsabilidade, com amor, com atenção. E quero sentir a leveza que uma mulher de quase quarenta anos deve sentir, com toda a realização e felicidade que deve ser sentida. Não quero me olhar no espelho e me ver cansada de tanto lutar, nadar, nadar e morrer na praia. Quero ver a tranquilidade de uma missão cumprida. Eu sei que isso hoje, atualmente, é meio difícil, volto a dizer, por conta da dependência de outras pessoas. Mas espero um dia poder sentir novamente aquela liberdade cheia de leveza, alegria e amor, muito amor.

                

quinta-feira, 13 de abril de 2017

LUTO

            Existem muitas formas de luto.
            E existem muitas causas de luto.
           A maneira como cada um vai sentir é própria, inerente de cada um. Não existe um padrão. Você pode chorar, pode ficar calado, pode gritar, espernear ou simplesmente ficar quieto e sentir-se o mais miserável dos seres. Pode exagerar na comida, na música, na farra, na bebida, fazer seja lá o que for. E do mesmo jeito, existem várias causas desse sofrer e não somente por causa da morte.
          A morte pode despertar vários sentimentos e emoções, desde uma aparente indiferença até o desespero total. Quando meu esposo faleceu eu fui da descrença até o ódio mortal, este último sendo justificado, na minha cabeça, pelo fato de ter sido de forma deliberada. Passei por maus lençóis, com duas crianças para dar conta, uma vida financeira completamente forasteira para mim. Depois de casada, nunca mais havia feito compras em mercantil, não sabia quanto custava o quilo de nada e muito menos qual a senha do meu próprio cartão. Então, ter que descobrir como me apropriar de tudo isso, enterrar um marido (que também não é fácil em termos burocráticos, além do sentimental), enfrentar a vida com meus dois filhotes, pôs-me em uma situação de pânico completo. Lembro perfeitamente de uma vez que fiquei um bom tempo com a cabeça debaixo do chuveiro pensando em como seria a nossa vida dali pra frente, se eu iria conseguir levar tudo certinho.
            Meu luto foi meio louco e extremamente vigiado. Eu não podia apresentar nenhuma reação alegre em nenhum momento, pois os meus sogros, especialmente a minha sogra já estava ali para me lembrar e condenar que eu havia perdido o marido, o grande filho dela. Ele realmente era um homem bom, responsável e de bom caráter, como poucos. Mas eu tinha duas vidinhas que precisavam de estímulos e precisavam entende o que estava acontecendo e eu não podia simplesmente parar, colocar a cabeça no meio das pernas e chorar o tempo todo. Foi uma situação atípica, onde por um lado eu tinha que mostrar aos filhos força para continuar, que eles tinham que aprender a superar, a vida continuava e de outro, nos momentos em que eu queria fazer o que me dava na telha para enfrentar meu luto, tinha que me comportar de um modo padrão, pois qualquer vacilo poderia ser motivo para um monte de falação. Mal sabia eu que tanto fazia eu seguir as regras como não e quem sabe se eu não tivesse seguido-as, a coisa tinha sido diferente.
            O ser humano quando quer é a pior coisa que se pode ter ao lado da gente. Jamais vou entender certos comportamentos. Mesmo eu fazendo de tudo para não machucar ninguém e deixar bem claro o quanto de falta ele estava fazendo, ainda saí de ruim da situação toda, levando minha família, naquele momento composta somente por nós três, a ouvir e ver certos comportamentos e comentários horrorosos e condenatórios que até hoje não entendo a necessidade. Mentira, calúnia, fofoca, parece que tudo o que estava sendo seguro pela barragem da presença do meu falecido esposo veio à tona depois que ele se foi. E por isso tive que dar início à minha peregrinação por um local decente e apropriado onde meus filhos pudessem viver e crescer de forma saudável.
            Nessas horas, embora seja um jargão comum, é que conhecemos as pessoas. Todas as máscaras caem e podemos identificar quem realmente se importa com o outro, quem se preocupa em ver o próximo bem.
            Até hoje vivo numa luta constante para ver meus filhos o mais confortáveis possível, em todos os aspectos. Isso não quer dizer que eles tenham tudo o que querem, pelo contrário, as dificuldades são grandes por conta de todo sufoco daquela época que ainda respinga hoje. Mas elas vão passar de vez. Minha doença, na cabeça de alguns familiares a grade causadora do enorme sofrimento do meu esposo falecido, avançou demais e com isso não é sempre que posso fazer o quero, do jeito que quero, na hora que quero. Mas existem pessoas que me ajudam muito e dedicam a vida a batalhar junto comigo para que todos nós fiquemos bem.
            Eu é que, por vezes, não acho justo que ninguém se prenda a mim ou deixe e fazer outras coisas por minha causa. Não gosto disso, pois acho a liberdade um direito essencial e quando eu vejo que posso impedir alguém de fazer algo, sinto-me um completo estorvo. E aí, aquele luto enraivado aparece de novo. Não posso desistir de viver nunca, mas a tristeza por vezes toma conta de um jeito que não sei o que pensar.
            Queria muito que as coisas fossem diferentes, mais fáceis, melhores. Sei que a vida não é um mar de rosas e não teria graça nenhuma se o fosse o tempo todo. A beleza está na luta diária também. Mas mesmo essa luta cansa e desanima às vezes, principalmente quando dependemos de outros para que nossas coisas andem. Só um pequeno exemplo: todo o dinheiro que juntamos durante anos, inclusive heranças de meu pai, dinheiro do carro que vendi na época e não tive tempo de comprar outro, ainda está preso, há quase seis anos. Mesmo se tratando de um processo fácil, tanto ele quantos outros direitos que meus filhos têm, ainda não estão resolvidos então, quando passo por alguma dificuldade financeira, a primeira coisa que me lembro é disso e me sobe uma raiva, uma indignação sem tamanho. Até bem pouco tempo não era assim, mas as necessidades das crianças aumentam e eu, pode você dizer até que é exagero, sinto-me decepcionada, enraivada, pensando em até onde isso vai. Acho que por isso tudo, meu ciclo de luto ainda não terminou completamente. Penso que só vai finalizar no dia em que conseguir colocar tudo em ordem e me livrar de toda nesga do passado.
            Espero que daqui a pouco eu venha com notícias melhores.

            Paz e bem.   

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Para ajudar você

     Achei um aplicativo onde as pessoas, de forma anônima, escreviam sobre seus problemas, falavam sobre tudo o que sentiam, suas dúvidas, angústias e os usuários respondiam com dicas, conselhos ou simplesmente poderiam enviar algum "carinho virtual" para quem estava precisando. Fiquei pensando em como seria bom se eu pudesse ajudar as pessoas a tirar suas dúvidas, principalmente as relacionadas à minha área. No aplicativo, cheguei a responder algumas pessoas, quase que "orientando" algumas mulheres sobre saúde sexual e reprodutiva e também sobre algumas questões comportamentais, psicológicas. Senti-me muito bem, muito útil e comecei a buscar uma forma de ajudar mais gente. Eu mesma publiquei um tópico sobre algo que estava me incomodando demais e recebi respostas maravilhosas. Então, como disponho desse pequeno espaço aqui, quero tentar ajudar quem quer que seja, quem estiver precisando de uma orientação, de uma palavra confortante. Deixo bem claro que não digo a ninguém que abandone tratamentos ou que não busque orientação médica quando necessário. Mas quero ser apenas aquele ouvido virtual, já que usamos bastante essa tecnologia diariamente e por incrível que pareça tendemos a ser sinceros na internet, quando estamos escondidos na forma de um perfil desconhecido. Então, a partir de agora, se você quiser perguntar algo, tirar alguma dúvida ou simplesmente desabafar sobre qualquer assunto que seja, estarei aqui para ouvir e conversar. Só se identifique se quiser, esse não é o foco. O objetivo é ajudar as pessoas a colocar para fora o que está incomodando e dar-lhes uma palavra de orientação e conforto. Não sei de tudo, aliás, ninguém sabe. Mas quem sabe a gente possa encontrar um caminho ou o fato de desabafar já melhore, alivie? Seja lá qual assunto for. Estou às ordens, ok? Aguardo. Valeu!